sábado, 9 de outubro de 2010

Aos 20 anos...



CARTA ABERTA A DEUS, AOS MEUS PAIS, MINHA IRMÃ, MEUS LEAIS ESCUDEIROS E QUEM POSSA SE INTERESSAR.... 


Começo da escrita... 30/07/97

20 de novembro de 1988, +ou – 07h40min h, de uma manhã ensolarada de domingo, bem típica daqui de Salvador. Acordo, e em volta de mim vejo rostos desconhecidos, todos vestidos de branco, sinto cheiro de éter (q até hoje me causa náuseas) e percebo que gemidos de dor se fazem presente, inclusive os meus. Consigo ver mainha e painho, enxergo nos olhos deles uma mais profunda dor, expressão que jamais vou esquecer e que me acostumaria a ver diversas vezes, com o passar do tempo e ainda ...hoje. Finalmente sou comunicada q fui atropelada e que além das diversas escoriações (pé direito, joelhos, mãos, cotovelos, testa, orelha direita), da possibilidade de traumatismo craniano, eu havia fraturado o fêmur esquerdo... eu não sabia, mas... por causa desta fratura iria ficar em torno de 1 ano e 6 meses em cima da cama (saindo e entrando de hospital, alternando a necessidade de ficar, com o não querer sair dela), ser carregada em cadeira de piscina, urrar e desmaiar de dor, sem saber se ficaria ou não com minha perna, andar de muletas (já perdi as contas de quanto tempo), passar por inúmeras cirurgias, e só por que houve negligência do primeiro médico e eu tive infecção óssea, depois da primeira cirurgia.
Pude constatar o mesmo olhar profundamente triste e dolorido não só nos olhos de meus pais, também nos olhos de minha irmã, meus tios, dos meus leais escudeiros e para minha própria surpresa, nos meus próprios olhos, que apenas refletiam o que me ia à alma.
Passei um longo período sem me permitir sentir as perdas que tinha tido, afinal, eu dançava, jogava capoeira, era admirada pelo meu corpo e o mais importante ir e vir a qualquer hora e de qualquer lugar. Se não levantasse para pegar um copo d’água ou p/ apagar a luz, ou se prendia o xixi era por pura preguiça, não dependia de ninguém ou de nenhum aparelho, como dependo agora e vou depender pelo resto da minha vida.....


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

OBA OBA!!!!

Oba!!! Aqui em Salvador-Bahia, no Hospital São Rafael será feita ainda este mês o primeiro implante com células tronco adultas em pessoas que sofrem paraplegia, segundo notícia do Jornal Nacional. Claro que não há expectativa do paciente sair andando, só que, qualquer melhora já é um sucesso para o paciente e  a equipe médica e uma esperança para zilhões de pessoas.

Cirurgia Células Tronco Adultas/Osso Sintético




Estava tudo combinado p/ retirar osso da minha bacia e colocar para diminuir o tamanho de uma perna para outra.Quando recebo uma ligação de Dr. Everson, perguntando se eu seria a primeira paciente no mundo a colocar um concentrado de 86% de células tronco adultas junto com um osso sintético/esponjoso, ele garantiu q as dores seriam menores, então topei na hora. Conversei com meus pais.E minha mãe quando soube que eu seria a primeira do mundo, passou a ter febre e uma tosse q não tinha explicação, meu pai estava nervoso mas procurava manter a calma, eu estava tranqüila, provavelmente por encarar esta cirurgia da célula tronco como mais uma, a ultima de uma série de 15.Só soube qual seria a técnica usada na véspera da cirurgia, quando chegamos em Campinas, eu, minha mãe e meu pai. Dr. Everson explicou detalhadamente a técnica, ficamos mais tranqüilos e foi quando houve uma procura pela mídia. Até então eu não tinha noção do que estava acontecendo. O fato de ser a primeira paciente a utilizar esta técnica não significava nada para mim, pois o que eu queria mesmo estava acontecendo, voltava a ter minha perna inteira e flexionando de volta. Só depois me dei conta do quanto era importante, quantas pessoas poderiam ser ajudadas, e eu não sou mais especial ou melhor do ninguém, se Deus traçou este caminho, talvez seja para ajudar mais pessoas, por ter me tornado mias disponível, já que não recuso atender ninguém, seja um paciente, conhecido, desconhecido, a imprensa, o que importa, é que quanto mais pessoas souberem desta técnica, mais pessoas serão ajudadas. Tenho uma comunidade no Orkut: células tronco/ giulia costa, que conta um pouco da técnica e do seu sucesso e no álbum meu Orkut tem fotos de antes e depois e da própria cirurgia, todos possuem acesso e agora um blog, Simplesmente Giulia, www.simplesmentegiulia.blogspot.com
Algumas pessoas me perguntam se eu não tive medo, e eu respondo que o medo hora nenhuma se aproximou de mim, por que eu sei q Deus jamais iria permitir que algo desse errado, já que a mim, sua filha, ELE estava dando mais uma chance e que MEU PAI, COSTINHA, MINHA MÃE, RITA, MINHA FAMILIA E MEUS AMIGOS SEMPRE ESTARIAM DO MEU LADO E TAMBÉM A CONFIANÇA ABSOLUTA E INCONDICIONAL EM DR. EVERSON, então qual espaço o medo tinha p/ chegar e se instalar? Nenhum.

domingo, 3 de outubro de 2010

Beija-Flor de Mainha para Mim


Havia uma família de beija flor que vivia no ninho em harmonia, até que um dia a ave mais moça foi empurrada por um gavião e quebrou a asa. Foi aquele horror. O pai quis matar o gavião, a ave irmã queria destruir o ninho do gavião e a ave mãe só fazia chorar. Depois do impacto inicial, todos se acalmaram e viram que quem precisava de apoio agora era a ave que tinha quebrado a asa e não podia mais voar.

A ave que quebrou a asa era otimista, alegre, de bem com a vida, e os outros membros da família não queriam que ela perdesse essa alegria, apesar do acontecido.

Foram longos anos de recuperação, todos juntos, sem deixar ela se deprimir, nem se sentir uma coitadinha. Apesar da asa quebrada ela voava carnaval, voava trilha na chapada, tinha uma vida quase normal, apesar das restrições da asa quebrada, até na Euro Disney ela foi em quase todos os brinquedos.

O pai ave nunca desanimou. Achava que ia descobrir um médico que ia consertar a asa de sua ave. Correu meio mundo e nada. Ele porem não desanimava. Quando se falava no assunto, ele dizia: “a medicina esta avançando, vai aparecer algum médico não sei aonde, nem quando, mas que vai, vai.” No mês anterior um dos médicos consultado, tinha tirado todas as esperanças, dizendo que não mexia ali de maneira nenhuma.

No mês seguinte, olhando um programa de TV apareceu uma coruja muito sábia.
Foi marcada uma consulta em Campinas, onde atuava a coruja sábia e ela disse que era possível consertar a asa com seqüela, o que poderia ser feito em etapas.Aí todo o sofrimento voltou multiplicado, pois as dores depois das cirurgias eras alucinantes, vez que até a morfina fazia pouco efeito. A ave mãe até desejava trocar de lugar com ela, e não podia. Sofria sem poder fazer nada. Fez uma, duas, três, seis, enfim, foram dezenove cirurgias na avezinha. A ave mãe, a ave irmã e a ave pai ali, grudados sempre juntos, mas não podiam fazer nada a não ser orar e dar apoio. A dor quem sentia era ela. A ave mãe permanecia junto o tempo todo. Muitas vezes chorou sozinha pela impotência de não poder fazer algo para melhorar as dores, mas era em vão. A dor era da avezinha.

A avezinha por sua vez, nunca desanimou, tinha muita força de vontade, nunca se queixou, aceitou tudo sem nunca perder a esperança, alegria e a vontade de viver.Mexia, e remexiam com a asa dela. A cada hora uma novidade, um procedimento novo, e ela ali, agüentando tudo com um sorriso de esperança nos lábios, sabendo que era para melhor o que estava fazendo ela sofrer agora. Nunca vi uma ave sofrer com tanta resignação.

Hoje a avezinha esta praticamente curada e não aceita ser tratada numa redoma de vidro e sim como uma ave normal.
Quando falamos, olhe sua asa!
Ela responde, que asa. A minha é igual a sua.
Deu uma lição de otimismo a todos nós, pois leva uma vida normal, voando mais longe que muita ave que nunca teve problema algum.