CARTA ABERTA A DEUS, AOS MEUS
PAIS, MINHA IRMÃ, MEUS LEAIS ESCUDEIROS E QUEM POSSA SE INTERESSAR....
Começo da escrita... 30/07/97
20 de novembro de 1988, +ou –
07h40min h, de uma manhã ensolarada de domingo, bem típica daqui de Salvador.
Acordo, e em volta de mim vejo rostos desconhecidos, todos vestidos de branco,
sinto cheiro de éter (q até hoje me causa náuseas) e percebo que gemidos de dor
se fazem presente, inclusive os meus. Consigo ver mainha e painho, enxergo nos
olhos deles uma mais profunda dor, expressão que jamais vou esquecer e que me
acostumaria a ver diversas vezes, com o passar do tempo e ainda ...hoje.
Finalmente sou comunicada q fui atropelada e que além das diversas escoriações
(pé direito, joelhos, mãos, cotovelos, testa, orelha direita), da possibilidade
de traumatismo craniano, eu havia fraturado o fêmur esquerdo... eu não sabia,
mas... por causa desta fratura iria ficar em torno de 1 ano e 6 meses em cima
da cama (saindo e entrando de hospital, alternando a necessidade de ficar, com
o não querer sair dela), ser carregada em cadeira de piscina, urrar e desmaiar
de dor, sem saber se ficaria ou não com minha perna, andar de muletas (já perdi
as contas de quanto tempo), passar por inúmeras cirurgias, e só por que houve
negligência do primeiro médico e eu tive infecção óssea, depois da primeira
cirurgia.
Pude constatar o mesmo olhar
profundamente triste e dolorido não só nos olhos de meus pais, também nos olhos
de minha irmã, meus tios, dos meus leais escudeiros e para minha própria
surpresa, nos meus próprios olhos, que apenas refletiam o que me ia à alma.
Passei um longo período sem me permitir sentir as
perdas que tinha tido, afinal, eu dançava, jogava capoeira, era admirada pelo
meu corpo e o mais importante ir e vir a qualquer hora e de qualquer lugar. Se
não levantasse para pegar um copo d’água ou p/ apagar a luz, ou se prendia o
xixi era por pura preguiça, não dependia de ninguém ou de nenhum aparelho, como
dependo agora e vou depender pelo resto da minha vida.....